ALIANÇA INTERNACIONAL DE CATADORES

A Aliança Internacional de Catadores é um sindicato de organizações de catadores que representa mais de 460.000 trabalhadores em 34 países
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Felipe Rosário é um orgulhoso catador de materiais recicláveis desde 2008, quando seguiu os passos de seus dois irmãos e entrou para a profissão. Ele tinha 18 anos de idade. Nativo de Costa Branca, na República Dominicana, ele trabalha na La Associación de Recicladores del Eco-Parque Rafey, uma associação de catadores localizada no maior aterro sanitário do norte do país.

“Para mim, era doloroso ver lixo por toda a parte, vê-lo poluindo os rios”, disse Felipe, “Para resolver esse problema, precisei me tornar um catador”.

Como todo aterro sanitário, todos os dias, quando o lixo é despejado lá, ele é coberto após algumas horas. Os catadores têm um tempo limitado para coletar os recicláveis antes que sejam enterrados.

Fundada em 2009, a associação dos catadores é a primeira da República Dominicana. Alguns de seus objetivos incluem a formação educacional e técnica para melhorar as condições de trabalho dos catadores, e a melhoria da produtividade e das habilidades empreendedoras dos catadores.

Felipe diz que, em abril de 2009, os catadores enfrentaram um problema quando os engenheiros responsáveis pelo aterro sanitário decidiram impor suas regras, incluindo a decisão sobre quantas pessoas poderiam trabalhar no aterro. Quando os catadores começaram a protestar, os administradores do aterro reagiram de forma injusta, de acordo com Felipe. “O escândalo foi tão grande” que atraiu a atenção e o apoio da Red Lacre e de organizações de direitos humanos. Os catadores continuaram a desenvolver relações com diversas organizações.

Red Lacre at People's Summit

A Red Lacre na tenda do MNCR na Cúpula dos Povos, em junho de 2012.

Desde então, mais de 300 catadores da associação passaram por treinamentos, incluindo de gestão de conflitos, administração e gestão de resíduos sólidos. Os treinamentos tiveram o apoio de diversas organizações e agências, mas o principal veio da Fundación Solidaridad, da Xunta de Galicia-España e do Departamento de Comércio. Os membros trabalhavam no lixão durante o dia e participavam dos treinamentos à noite.

Para alguém de 21, Felipe tem um número surpreendente de responsabilidades. Em 2009, apenas um ano após ter se filiado à associação de catadores, seus membros elegeram-no presidente. Felipe diz que 523 catadores – a maioria dos quais é formada por homens – trabalham no aterro e que todos são membros da associação. “Decidi me candidatar, mas jamais esperava ser eleito”, diz Felipe.

Em março deste ano, um projeto piloto – uma usina de reciclagem – foi inaugurada. Felipe diz que a usina ainda não entrou em operação, mas, inicialmente, 14 catadores da associação trabalharão nela. Esse número irá aumentar para 150. Ele conta que a idéia por trás do projeto é aprimorar as condições de trabalho dos catadores. Finalmente, ela se tornará a primeira usina de reciclagem administrada por catadores trabalhando em conjunto com a prefeitura.

Red Lacre visit to Eco-Parque Rafey

Membros da Red Lacre visitam o Eco-Parque Rafey, em julho de 2012.

Felipe dedica seu tempo à associação durante o dia e trabalha no aterro à noite. Além disso, também está fazendo cursos preparatórios em ciência política, para que possa obter um diploma nessa matéria. Ele planeja fazer as primeiras aulas na universidade no ano que vem. Seu objetivo final é se tornar o presidente de seu país.

“A República Dominicana precisa de um líder que esteja interessado em questões sociais”, ele afirmou, “Acho que posso ser um deles”. Felipe também afirma que deseja ver seu país livre de contaminações ambientais.

A determinação de Felipe atinge grandes resultados. No início deste ano, na Conferência da América Latina e Central de Catadores, Felipe foi eleito como representante da secretaria de comunicações da Red Lacre, juntamente a Seferina Tolentino Dilone, catadora e vice-presidente da associação.

“Tem sido recompensador trabalhar na secretaria de comunicações, especialmente a parte que me permite aprender com outros catadores”, reflete Felipe. Ele conta que algumas de suas responsabilidades incluem a divulgação de informações relevantes e importantes para catadores e a revisão das propostas deles antes que sejam enviadas para aprovação pelo comitê de gestão.

Em junho deste ano, Felipe teve a oportunidade de participar de eventos paralelos da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, e da Cúpula dos Povos, um espaço alternativo que reuniu milhares de movimentos sociais e membros da sociedade civil.

“Foi muito interessante e uma experiência que me ensinou bastante”, diz Felipe, “Os catadores são uma solução para vários problemas ambientais e econômicos. Podemos ter um grande impacto sobre a economia, criando uma sociedade livre de resíduos e contaminação, e criando muitas oportunidades”.

Em um seminário com os representantes da Red Lacre, realizado no espaço do movimento brasileiro durante a Cúpula dos Povos, Felipe falou sobre seu trabalho atual na rede latino-americana. “A Red Lacre, com o apoio de seus aliados, está ajudando a criar movimentos nacionais de catadores”, disse ele. Neste momento, ele trabalha para a formação de uma rede nacional na República Dominicana.

Red Lacre at the People's Summit.

Membros da Red Lacre participam de um seminário na Cúpula dos Povos.

A Red Lacre começou a convocar projetos para apoiar esses movimentos nacionais. “O objetivo é que cada uma dessas organizações de catadores terá a oportunidade de fortalecer seus movimentos, unir esforços, continuar lutando e manter-se organizada”, afirmou ele, “A Red Lacre é uma aliada que todos nós precisamos continuar ajudando a progredir”.

“Compartilhar essa experiência com os catadores do Brasil e de outras partes do mundo foi inesquecível”, conta Felipe, “Aprendi que não é fácil, mas meu país pode melhorar. Foi preciso ter um desejo insaciável para tornar essas vitórias realidade, junto a meus colegas catadores”.