ALIANÇA INTERNACIONAL DE CATADORES

A Aliança Internacional de Catadores é um sindicato de organizações de catadores que representa mais de 460.000 trabalhadores em 34 países
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publicado por
Escrito por Nandi Vanqa-Mgijima, International Labour Research & Information Group (ILRIG)

Região

País África do Sul

maio 30, 2015

Traduzido por Fernando Silva


Workers World News. 10/01/2014

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Vários homens, mulheres e crianças das comunidades da classe trabalhadora ganham a vida coletando, triando, reciclando e vendendo materiais recicláveis que outras pessoas jogaram fora. A falta de emprego, educação e a pobreza crônica – associados ao neoliberalismo – forçaram várias mulheres a trabalhar como catadoras. Agora há uma iniciativa em andamento pelas catadoras da Cidade do Cabo para que se organizem para lutar pelo reconhecimento e melhores condições de trabalho.

Vozes das ruas

Nos últimos 16 anos, uma catadora, Sis Mpumi, vem tentando organizar outros catadores e catadoras para lutarem pelo seu reconhecimento profissional. Ela é moradora do assentamento informal Site B, em Khayelitsha, desde 1986 e diz que quase todo mundo daquele local sobrevive graças à coleta de materiais recicláveis.

Neoliberalismo e o crescimento do setor informal

Uma das principais razões pelas quais tantas pessoas, incluindo mulheres, têm se envolvido com a coleta de materiais recicláveis é o neoliberalismo. O capitalismo neoliberal tem sido desastroso para as mulheres exploradas e oprimidas. Sob o neoliberalismo, o emprego em tempo integral e/ou regular vem sendo gradativamente substituído pelo trabalho em tempo parcial, temporário e precário, especialmente para mulheres. Assim, o setor informal (que engloba catadores e catadoras, operários do sexo, trabalhadores doméstico e vendedores ambulantes) vem crescendo cada vez mais na África do Sul e em outros lugares desde a adoção do neoliberalismo. Mulheres costumam ser a maioria das pessoas envolvidas no setor informal e o número de mulheres envolvidas com a coleta de materiais recicláveis também vem crescendo.

Como é a vida de uma catadora?

Sis Mpumi diz que as catadoras geralmente participam de trabalhos muito arriscados e perigosos. Elas geralmente não têm roupas de proteção e costumam ser expostas a materiais perigosos ao fazer a coleta e triagem. Como parte do trabalho, as catadoras também estão sob alto risco de serem vítimas de crimes e violência sexual devido às horas longas e irregulares em que trabalham.

As catadoras costumam ser vistas como uma espécie inferior por seus vizinhos e pela comunidade. Sis Mpumi explica que “somos ignoradas e desprezadas por causa do trabalho que realizamos, e as pessoas costumam nos ver como sujos, vagabundos e inúteis que querem comer das latas de lixo”. Assim, o impacto da exclusão social para os catadores é enorme.

Catadores e catadoras também são explorados e discriminados pelos setores público e privado, incluindo os intermediários. Na verdade, os catadores recebem muito pouco dos intermediários, que então revendem os materiais coletados por preços muito maiores. Devido à discriminação, as mulheres, mais especificamente, nem sempre têm acesso aos recicláveis de maior valor, o que também afeta negativamente seus níveis de renda.

Outro problema é que catadores de municipalidades costumam ser impedidos de ir a outras áreas onde há formas de lixo mais valiosas. Três dos 6 aterros da cidade estão fechados para catadores de municipalidades e eles geralmente não podem entrar nos locais onde os materiais mais valiosos são encontrados.

As catadores se organizam

Em 2010, Sis Mpumi começou a falar com um grupo de mulheres de sua área que estavam envolvidas na coleta de materiais sobre organização para lidar com os desafios que enfrentam como catadoras e como mulheres. Agora, elas formaram um grupo chamado de Siyacoca, “estamos limpando”, e o grupo vem crescendo cada vez mais. Como parte do processo de organização, elas vêm participando em sessões de educação política cujo objetivo é fortalecer a liderança das mulheres, analisando as restrições e limitações impostas sobre elas pelo governo e pelas empresas, e explorando diferentes maneiras de se organizar.

Através da Siyacoca, Sis Mpumi e suas companheiras estabeleceram estruturas locais em Khayelitsha e Philippi, que se tornaram plataformas onde as pessoas falam sobre o trabalho que fazem e são usadas para estimular as pessoas a participarem da luta. Algumas das estratégias adotadas como ferramentas de organização dessas estruturas locais da Siyacoca são educação e redigir cartas para as autoridades descrevendo seus desafios e exigências. Como não têm um local específico para juntar o lixo que recolhem, elas estão usando a Siyacoca para conversar com as Autoridades Municipais e conseguir um espaço para tal.