ALIANÇA INTERNACIONAL DE CATADORES

A Aliança Internacional de Catadores é um sindicato de organizações de catadores que representa mais de 460.000 trabalhadores em 34 países
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publicado por
Escrito por Gilberto Chagas

Região

País Brasil

fevereiro 27, 2017


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Marlene Lourenço Perreira (Marleninha)

Nascida em 1953 em Pescador, Minas Gerais, Marlene vem de uma família grande: ela tem 10 irmãos, sendo 8 mulheres e 3 homens. Seus irmãos estão todos vivos – uma benção já que antes no interior a mortandade infantil era alta. Sua mãe ainda vive e tem 86 anos e seu pai faleceu em 2014. Marlene chegou a estudar fazendo o ensino médio incompleto em Pescador sua terra e chegou a dar aula nas escolas rurais com apenas 17 anos como conta .

Quando as professoras iam fazer cursos ou tiravam férias me chamavam para substituir elas, isso em 1971, e eles nem meu INSS pagaram, só me davam um salário mínimo na época… Sem contrato, sem nada, só de boca mesmo.

Marlene como, ela mesma diz, teve sorte… Sua mãe era costureira e o pai comprava gado, rapadura e outras coisas pra vender na pequena Pescador. Depois de formadas, as irmãs eram professoras (antes só tinha o antigo magistério) foram para Belo Horizonte e assim sua família conseguia levar a vida até razoavelmente bem e aos poucos os irmãos foram migrando pra BH e trouxeram também os pais para o bairro Ipanema em BH. Aí ela também veio chegando em BH e fez curso de datilografia e trabalhou como auxiliar de escritório. Depois ela foi trabalhar numa loja na AV Santos Dumont, no centro de BH, e lá fazia de tudo na loja. Apesar de ser Balconista, abria e fechava a loja, fazia serviço de banco e era mais como uma gerente .

Depois que esta loja fechou, o dono abriu outra no Bairro Pindorama em BH e ela fazia lá os mesmos serviços. Em 1978, ela se casou e hoje é mãe de 5 filhos sendo 1 homem e 4 mulheres. Seu marido era Eletricista e mudava-se muito de cidade e sempre levava a família com ele, assim Marlene já morou em várias cidades de Minas como Governador Valadares, Congonhas do campo e em mais uma dúzia de cidades como relata. Depois de um tempo voltou para Pescador e como o marido também era de lá e o sogro dela que tinha sido Prefeito de pescador 5 vezes havia prometido arrumar trabalho pra ela mas não arrumou, ela deu o ultimato ao marido pra voltar pra BH, pois ela não gostava de ficar em casa e não gostava deste lance de ser dona de casa como ela diz rindo muito ao lembrar.

Com 5 filhos pra criar ela chegou a trabalhar em várias coisas: fazia faxina lavava roupa pra fora, trabalhou como arrematadeira de roupas de lã e fez muitas coisas ao longo da vida pra viver, recorda. Neste período conheceu a catação de recicláveis e por volta 1996 começou a catar no CEASA unidade Contagem. No começo, catava verdura, caixotes usados pra revender e recicláveis. Eram tempos difíceis…. Os atravessadores vinham com caminhonetes com a balança em cima e pagavam uma miséria no material. Os lojistas ficaram meus amigos e doavam sobras de coisas que iriam pro lixo mas que ainda estavam boas pra consumo. Se desperdiça muita coisa no Ceasa e é triste ver tanta coisa indo pro lixo, ela diz. Em 2000, ela se lembra que algo começa a mudar em sua vida como ela mesmo diz até com certa emoção. A Ceasa Contagem começa com ações pra retirar os vendedores Ambulantes, os catadores de verdura e os catadores de recicláveis, também, começam a serem perseguidos. A esperança surge quando um grupo da Pastoral de Rua de Contagem e também de BH Junto com outros Catadores do Bairro Novo Riacho e dezenas de voluntários começam a ajudar os catadores a se organizarem tanto no Ceasa como no Bairro Novo Riacho em Contagem e daí surge a ASMAC. Marlene fala sobre a importância destas pessoas, em especial Padre Ferreira Filho dos Missionários Operários. Ela agradece em especial a todos os voluntários da Asmare de BH que também ajudou na construção da ASMAC Contagem na época. Hoje Marlene é Coordenadora Geral da ASMAC e já foi tesoureira e balanceira. Seu ponto era no Ceasa mas hoje está no Galpão Novo Riacho ajudando como balanceira também. Quando pergunto se tem ou teve algum sonho ainda não realizado ela diz que queria ter terminado os estudos e ser professora – este era e continua sendo seu sonho maior! Esta é nossa companheira Marlene da ASMAC Contagem MG!

Fotos e entrevista de Gilberto Chagas MNCR.

Gilwarley é uma das lideranças do Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis – MNCR – de Contagem, Minas Gerais. Gil tem se dedicado há alguns anos à documentar o movimento dos catadores através de fotos. Recentemente ele começou a documentar as histórias de vida de catadores e catadoras como forma de valorizar a vida e o trabalho de seus companheir@s de movimento. +info Quem somos